quinta-feira, 16 de abril de 2015

O Castigo

Hoje vi um vídeo – de fofurice extrema, aliás – no qual uma menina de uns dois anos comia o batom novo da mãe e ainda dava uma parte para o cachorro comer. Maravilhoso, né?

Papo vai, papo vem, a mãe diz à menina:

- Agora você terá que ficar de castigo.

E sem pensar meio segundo, Manuela comenta:

- Igual a mim! Também fico de castigo toda hora.

...

...

...

Oi?

Sabe quando o mundo para? Pois é. Por um instante, não vi mais nada na minha frente e na minha cabeça começou a passar um filme sobre a educação que dou à ela e, principalmente, minha forma de repreende-la.

De cara, tentei lembrar quando foi a última vez que a deixei de castigo. Pensei, pensei, pensei... e juro que não consegui lembrar. Três semanas, um mês, dois meses???

Manuela é uma criança calma, na medida do possível. E quando digo isso, as pessoas costumam visualizar uma menina que passa o dia sentada a contemplar a vida. Desenhando, vendo televisão, brincando quietinha num cantinho da casa...

Não! Definitivamente não é isso.

Manuela é uma menina tranquila, bastante obediente para quem está – teoricamente – vivenciando os terrible two e muito delicada. Mas não é criança de novela. Sobe nas coisas, faz arte, pinta o corpo todo, adora correr e pular, etc etc etc

Uma menina como outra qualquer, que, apesar de fácil de lidar, tem suas crises de independência e malcriação.

Na maioria das vezes, consigo contornar com ações positivas. Outras tantas vezes, é à base da boa e velha bronca mesmo. E em raríssimas exceções, baixou aqui a supernanny e a conduzi ao cantinho do pensamento.

Não estou contando isso para me explicar, justificar e muito menos para me condenar. Mas confesso que me assustei com seu comentário!

Como assim “também fico de castigo toda hora”? Em que planeta isso acontece?

E mais: toda essa meia dúzia de três ou quatro vezes em que isso aconteceu teve que efeito sobre ela? Aquele que eu desejava? Melhor? Pior?

Como marcou a cabecinha dela? Como repreensão? Disciplina? Ou medo mesmo?

Ou nada também? Sem dimensão de tempo e espaço, falou por falar?

Honestamente? Não faço a menor ideia. Mas, pelo menos, tudo isso me fez parar pra repensar minhas atitudes e reavaliar como ando conduzindo sua educação.


Tarefa difícil essa de educar, viu?

terça-feira, 14 de abril de 2015

Descompartilhando a Cama

Logo que Manuela nasceu, por pura comodidade, ela dormia no carrinho ao lado da minha cama. Amamentar não era fácil e era na madrugada que conseguíamos nos conectar de forma mais profunda.

Por isso, ela se mexia, eu trocava sua fralda e já a colocava no peito. Ela mamava, arrotava e voltava a dormir. Bem ali do meu ladinho, sem qualquer esforço. Não precisava levantar, acordar marido, não despertava a cria e ainda me rendiam alguns minutos a mais de descanso. Era o paraíso na terra.

Com o tempo, um motivo ou outro me fizeram adiar os planos de colocá-la em seu berço. Rua barulhenta, ligar apenas um ar-condicionado, cansaço... E, de repente, movida por pura inércia, me vi compartilhando a cama.

Mas marido reclamava dos inúmeros chutes e pontapés e da consequente perda de espaço na cama. 

Foi, então, que minha obstetra me sugeriu comprar um chiqueirinho. Ela continuaria perto de mim, mas nosso espaço estaria preservado.

Gênia!

A partir daí, não tinha regra. Muitas noites ela dormia no chiqueirinho e outras tantas, na minha cama. A única certeza era que o berço do seu quarto continuaria com sua incrível e indispensável função decorativa.

Eu era (e sou) completamente apaixonada pela ideia da cama compartilhada. Descobri nela – e na Criação com Apego – algo muito mais profundo e intenso que apenas dividir o mesmo espaço.

Era entrega, conexão, intimidade. Fortalecer vínculos. Era passar confiança. Era estar disponível. Era dar e receber amor de uma forma palpável.

E como ela dormia bem quando estava entre nós dois! Percebia, às vezes, seus olhinhos abrindo e, ao enxergar um de nós, suspirava de alívio e voltava a dormir. Tão lindo!

Todas as noites ela se remexia até conseguir se aninhar em mim e dormir tranquilamente por mais muitas horas. Tão tão tão bom!

E eu continuo acreditando e defendendo essa prática. Mas acredito também que eu devia dar a ela o direito de escolher. E se ela quisesse curtir seu próprio cantinho? E se ela quisesse dormir rodeada pelos seus brinquedos, naquele espaço que foi, tão cheio de amor, planejado especialmente pra ela?

Além disso, daqui a pouco, ela não caberia mais no chiqueirinho e só teria a nossa cama mesmo para dormir. Não queria, de uma hora para outra, forçar um desapego. Não não não!

Foi então que no sábado de manhã perguntei a ela se, à noite, gostaria de dormir em seu quarto. Toda animada, ela disse que sim! Mas confesso que não levei muita fé naquela empolgação toda. Manu é muito chicletinho ciumento e não ia deixar papai e mamãe sozinhos no quarto com toda essa facilidade! Mas quando chegamos em casa, já na hora de dormir, ela mesma disse para minha mãe ao telefone:

- Vovó, hoje vou dormir na minha cama! No meu quarto!

Ela estava tão orgulhosa, que, apesar da descrença, resolvi arriscar.

O berço dela é daqueles que tem uma cama embaixo. Tirei dali o colchão e coloquei direto no chão. Deitei com ela, nos abraçamos, e ela logo adormeceu.

Preparei a babá eletrônica e fui pro quarto com o coração na boca! Achei que fosse passar a noite em claro. Mas o excesso de sono me fez apagar linda e deliciosamente!

E a mocinha também! Acordou tranquila, sozinha, na manhã seguinte. Ela estava tão feliz de estar no quarto dela que eu percebi que dividir a mesma cama, hoje, era mais importante pra mim do que pra ela.

Percebi que a grande lição da cama compartilhada, ela aprendeu: que nós, papai e mamãe, estaremos sempre disponíveis pra ela. SEMPRE SEMPRE SEMPRE...

Quando ela quiser, no dia que quiser, e por qualquer motivo que for, ela será recebida em nosso quarto com carinho e alegria. Ela jamais será vista como empecilho para nós dois! Que absurdo, aliás!, seria isso.

E assim tem sido. Toda noite dou a ela a oportunidade escolher e aviso que nada precisa ser definitivo.

Por enquanto, seu quarto tem vencido!

E a gente segue por aqui, compartilhando muito mais que a cama: compartilhando o amor!


segunda-feira, 13 de abril de 2015

YES, WE (ALL) CAN!

Andei passeando aqui pelo blog, lendo as histórias antigas, as minhas declarações de amor à ela, as minhas infinitas aflições...

É tão engraçado – e útil! – olhar pra trás. Reviver memórias, perceber o quanto o tempo voou, o quanto Manu cresceu e o quanto amadurecemos enquanto família.

Parece que a cada passo â frente, vamos criando cascas. Escudos mesmo. Ficamos mais fortes e mais seguras. E, mais do que nunca, temos a certeza de que damos conta, sim-senhor-obrigada, dessa tal maternidade.

YES, WE CAN!

Todas nós! Basta adicionar paciência e dedicação ao tanto de amor que já transborda e... pimba! 

Ultrapassamos todas as barreiras.

Tinha medo da Manu não comer...agora come!

Tinha medo dos dentes ... nasceram sem dar trabalho.

Tinha medo de escolher a creche certa... Já está no Maternal I, na natação, no ballet...

Tinha medo do desfralde ... por aqui, há 5 meses, só entram calcinhas!

Tinha medo de desfazer a cama compartilhada... está dormindo no seu quarto e amando a ideia (amando muito mais que eu, inclusive!).

As coisas foram acontecendo, minha confiança se fortalecendo e aprendi a deixar fluir, sem pressa.

E quando dei por mim, aquele bebezinho que tanto chorava deu lugar a uma menina linda, que transborda delicadeza e esperteza. Uma menina que conversa comigo o dia inteiro. Que me explica suas vontades e vive me contando seus causos e peraltices. Uma mocinha tagarela e cheia de tiradas divertidas. Que repete muitas vezes ao dia que a mamãe é sua melhor amiga e que morre de saudades do papai, que insiste em ir, todo dia, ganhar esse tal de tutu.


Uma menina encantadora, mas que preserva aquele mesmo olhar forte do primeiro dia fora da barriga.