Provavelmente não estou certa, mas desde a gravidez tento
blindar a minha família do mundo real. Do universo cinza que insiste em
predominar lá fora. Por medo, principalmente, de criar uma paranoia e não
viver.
O lema é: da porta para dentro, o amor e a alegria ditam as
regras.
Sei muito bem que a realidade é dura e que a humanidade é
portadora de males difíceis de curar. Violência, pobreza, corrupção...Está tudo
aí, às vistas de todos. Entretanto, eu insistia em não vê-la, empurrá-la para
debaixo do tapete para que minha princesa não a experimentasse.
Mas no final de semana, um choque de realidade sacudiu minha
cabeça, mexeu com toda minha estrutura e me fez repensar e reavaliar minha
conduta. Afinal, não há bolha que um dia não estoure! Não poderia mantê-la
nessa redoma por muito mais tempo.
Sábado foi o dia do curso de batismo. Manu será batizada
numa Igreja que tem como público principal uma comunidade carente: do Andaraí.
No dia da palestra, o voluntário fez uma espécie de dinâmica
com os adultos presentes. Separou-nos em seis grupos e cada um deveria ler um
texto e responder duas perguntas. Cada grupo deveria eleger alguém para reunir
as respostas e lê-las para todos.
O meu era o 1. Nele, havia 7 pessoas: 4 mulheres e 3 homens.
O voluntário pediu a um dos homens que fosse o responsável, mas ele não esboçou
qualquer reação além de alguns “Oi?” , “Hãn?”. Então o senhor pediu a mim, que
aceitei (Certeza de que isso sobraria para mim! Atraio!).
Textos em mãos, devidamente distribuídos. Li. Esperei mais
um pouco e perguntei se todos haviam lido. E das outras 6 pessoas presentes, 4
me responderam que não sabiam ler.
Sim, 4!
4 de 7.
57%.
Meu queixo caiu. De tola que sou, mas caiu. Meu coração
doeu, apertou. Pois, mesmo sendo essa uma realidade a qual vivencio há muito
tempo, há pelo menos um ano a mantinha longe de mim. Não queria ver. Não queria
pensar que é nesse mundo que coloquei minha gordinha. Que esse mundo ainda
existe.
Pedi desculpas. Agi com naturalidade e disse que não havia
qualquer problema naquilo. Leria o texto em voz alta, explicaria e bateríamos
um papo depois. E assim foi. Houve dificuldade em entender a passagem Bíblica,
mais ainda em responder as perguntas. Mas, com jeitinho, todos contribuíram
igualmente para a resposta final.
Não é de hoje que desejo voluntariar em algum projeto. E
sempre disse que quando tivesse um filho, ainda pequeno, o carregaria comigo
para praticar a caridade, como fazia minha mãe. Planejava levar a Manu depois
dos 4 anos para levar alegria a quem precisa. Mas, depois dessa, senti uma
necessidade enorme em não esperar. Em ir logo. Uma urgência de agir. Quando a
baixinha puder, irá comigo.
Enquanto não é possível, marido sugeriu ficar com
ela para eu me dedicar. Curti e começo a pensar mais seriamente no assunto.
A vontade foi ainda maior de atuar naquela Igreja, a poucos
passos da minha casa. Mesmo não sendo católica, há ali (e em todas as outras,
acredito eu!) um atendimento belíssimo à comunidade. Para dar um exemplo: a
creche conta hoje com 126 crianças carentes. Um número bastante significativo de
mães que precisam, como a maioria de nós, deixar seus filhos aos cuidados dos
outros para ganhar pouco dinheiro.
E tudo isso me fez pensar, mais uma vez, sobre exemplos.
Sobre quem queremos que nossos filhos se tornem. Não que caiba a nós definir a
personalidade deles. De jeito nenhum. Mas se queremos formar cidadãos
conscientes, cheios de amor e boa vontade, temos, sim, de dar o exemplo!
Não quero que a Manu cresça fingindo não ver as desigualdades.
Indiferente ao sofrimento dos outros. Não foi assim que eu cresci. Desde
pequena, minha mãe levava a mim e minha irmã para ajudar pessoas carentes.
Trabalho voluntário em creches, hospitais, festas beneficentes, tudo isso
sempre fez parte da minha vida. Não seria justo agora, na minha vez de educar,
alienar-me para poupá-la da inevitável realidade.
Por isso, conversarei bastante com o marido para vermos o
melhor momento de colocar a mão na massa e servir. Sinto que é o momento e que tem
amor que não acaba mais aqui dentro...
Imagem retirada de: http://nitportalsocial.blogspot.com.br/2013/02/nit-portal-social-artigo-inscricoes.html#axzz2Pt8J1zv7 |
Clap, clap, clap, clap!!!
ResponderExcluirPalmas!!
Excelente!
Lindo texto, de sensibilidade tangível, Pati.
Eu tbm sinto essa necessidade, sei que temos muito mais do que algumas pessoas, podemos tentar amenizar o sofrimento de alguns... pq não?!
É difícil a beça, mas vale a pena.
Adorei o que expôs, concordo com tudo!
Beijo!
Filha, sei o quanto temos necessidade de colocar a mão na massa.Foi assim que eduquei vocês. Sempre fizemos trabalho voluntário. Com sua família, acredito, não será diferente. Mostrar pra Manú que somos todos iguais e que temos sim obrigação de ajudar, fará parte do crescimento, evolução e personalidade dela.Mas por favo,espera só ela aprender a falar e andar. Tenho certeza que criada com tanto amor ela terá bastante o que oferecer ao próximo.Enquanto isso, coloque a mão na massa você!!!!!
ResponderExcluirTe amo!!!!!!!!!!!!!!!!
Olá Paty
ResponderExcluirAgradeço a sua visita no meu post sobre Birras Infantis no Recanto das Mamães Blogueiras.
Bjks
www.makeviagem.blogspot.com.br
Oi Paty! A realidade muitas vezes nos assusta. Podemos saber que algo existe, mas constar é doído, não? Também tenho o desejo de voluntariar ensinando e ainda vou realizar. Parabéns! Entre em contato comigo através do ghangai@hotmail.com. Quero lhe convidar para uma postagem no Blog. Beijo, Gisa Hangai
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